sábado, 4 de agosto de 2012

A redenção da Ricota

Hoje não havia hóspedes para o jantar. Foi bom para conversar com calma, saborear tranquilamente cada prato servido, só a família e eu. Falo sem parar da minha completa admiração pela ricota que eles fazem. E eles começam a me contar mais da história deste queijo, e fiquei boquiaberta, da mesma forma quando provei a primeira ricota que o Roberto me ofereceu.

Estou completamente viciada. Raspo os pratos onde elas são servidas enquanto levo a louça para a cozinha. Fico de olho na porção servida a algum hóspede torcendo para que ele não coma tudo. Só falta sonhar a noite, porque de dia já faço.

Um pouco de história para quem, como eu, pensava que ricota era aquele famoso queijo das dietas. Não, a ricota merece seu lugar de honra junto aos queijos de primeira linha. Aquela outra é algo completamente diferente, a prima anoréxica da ricota de verdade.

Primeira lição: a ricota é italiana. Tem este nome porque é levada ao fogo duas vezes (ri – repetição, cota – cozida). Da primeira se faz o queijo e sobra o soro, que depois volta ao fogo com um pouco de leite e sal para que surja, como num passe de mágica, aqueles gominhos macios em cima na panela. Depois é só recolher esta massa que se forma, colocar numa forma de queijo e assim que o excesso de água sair, comer.

Sim, ela é feita para ser comida fresca, se possível ainda morna. É desse jeito que ela conserva o sabor e a textura ideais. O sabor é levemente doce, com um pouco de sal, suave, perfeito com salgado e como recheio de sobremesas, muito comum nos doces sicilianos. A textura é cremosa, um cremoso diferente porque é muito leve. Não é pesado nem denso, quase derrete na boca.

Enquanto aprendo, vou comendo a ricota do jantar. Mas esta está um pouco diferente das que comi até aqui. A Nonna me explica que é porque já está velha, foi feita antes de ontem, é o limite para consumi-la. Ricota com mais de dois dias não presta, não é ricota italiana.

Exijo retratamento púplico. Discursos em cadeia nacional. Conferências na ONU. Devolvam à ricota o que é dela. Sua honra foi ferida e ninguém, ao menos no Brasil, a tem defendido.

Por falar em vícios, preciso confessar outro: leite de amêndoas.

Sempre gostei dos leites de grãos e castanhas. Não tenho problema com essa coisa de chamar de leite, não faço nenhuma comparação com leite de verdade. Nem me incomodo com o nome emprestado. Digo isso porque acho que muita gente não consegue apreciar estes leites pela comparação, esperando algo muito parecido com o leite de verdade ou um sentimento de exclusão, como se tivesse que escolher entre o leite de vaca ou o de cereais. Cada coisa no seu lugar e tem lugar pra todos na minha barriga.
O leite de amêndoas, no momento, está ocupando um bom espaço no meu paladar e olfato. Aqui se encontra o xarope pronto. Dá pra fazer de várias formas diferentes, apenas acrescido de água. É praticamente um suco, geladinho. No calor é delicioso.

Usa-se muito em doces, com uma massa folhada ou podre e um recheio de creme feito com leite de amêndoas e por cima as amêndoas in natura.

Outro combinação boníssima é o caffé ghiaccio feito aqui. Servido assim: embaixo o leite de amêndoas frio, depois o café quente e por último gelo. Delicioso. Dá um toque delicado à bebida que me agrada, uma pessoa não muito apreciadora de café.

Penso que não é difícil fazer, mas já sei que não é como as outras castanhas que bato no liquidificador, tem que ser prensada.

A pergunta que não quer calar é se esse xarope existe no Brasil, mais especificamente em BH. Por isso peço um favor a quem puder: rola de dar uma passadinha (este termo é muito mineiro, é lindo!) no Verdemar ou no mercado central (naquela banquinha de produtos árabes) e descobrir se vende? Em caso negativo deixo todos meus pertences na Itália e volto só com latte di mandorla na bagagem.



Não deu tempo de fotografar a ricota antes da fuga de rosalinda, mas tá aí o leite de amêndoas para ajudar na pesquisa...

4 comentários:

  1. Oi, Teresa! Sua mineirice se revela toda no texto da ricotta, né não? Bom pra quem pode... e no lugar certo, que é a Itália! Quanto a esse leite doce de amêndoas, o que diz o rótulo? Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Água, açúcar, amêndoas e alguns têm aroma...

    Os italianos têm muito orgulho da sua amêndoa, dizem que é muito melhor que a concorrente californiana, "bombada" e consequentemente menos saborosa...

    Ganhei um livro de receitas salentinas vou pesquisar se tem o leite. depois conto!

    beijo

    ResponderExcluir