quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pés na terra



Cheguei em BH no domingo a noite. Desde o aeroporto experimentava esta sensação de "lugar que tenho referências".  Por mais simples que sejam eram lugares e ações que conheço, não preciso pensar para fazer e muitas vezes nem vejo bem o que faço. Só faço. Assim, meio anestesiada cheguei em casa (leia-se a casa do meu irmão e família, a roça tava longe ainda...)

Viajar tem este gosto, do encantamento, da presença no presente. Acho que é porque tudo é sem referências anteriores e por isso mesmo parece que te faz estar mais vivo, mais atento. Eu adoro essa sensação, talvez por isso meus pais digam que eu tenho bicho de carpinteiro, ou a nova versão que eles inventaram: bicho no corpo inteiro! Viajar é comigo mesma.

Mas também adoro voltar e chegar em casa é daquelas coisas que não tem preço, eu sei.
Eu demorei pra chegar porque fiquei em BH até terça pra ajudar nas entregas dahorta. Mas o sabor de Brasil me recepcionou já na chegada: uma vasilha de jabuticaba me esperava na casa do Manel. Não conseguia me controlar, comia como uma louca, de madrugada, feliz da vida com aquele gosto da minha terra na boca! De manhã outro sabor que tava sonhando em encontrar: mamão! Como eu gosto de mamão! É uma coisa sem explicações, a consistência, o perfume, o frescor...

A volta à fazenda foi ontem e eu abraçava os hortelãs, tomilhos, coentros da horta. Almocei só verduras. E os últimos inhames da estação. Tudo de bom estar na horta, colher a couve que vou comer na hora, começar uns sucos vivos com tudo fresquinho...

Pois é, tô aqui com a maior dificuldade de terminar este blog ;)
Uns falam pra eu continuar com as histórias da fazenda, outros pra publicar os textos que escrevi e não postei. Não sei bem. Sinto que esta aventura chegou ao fim e merece um final. Queria algo em grande estilo, mas agora nem consigo ter esta clareza do que seria. É um pouco atormentador voltar. Por um lado a saudade e paixão com sua terra, seus locais conhecidos, as pessoas que você ama. Por outro é difícil chegar e saber que seu vizinho tá plantando transgênico, que cortaram as árvores ao redor da estrada para aumentá-la (sei que a duplicação é boa, mas é estranho ver aquela estrada tão conhecida meio pelada, sem as árvores dos lados...) e assim vou tentando me adaptar, sem revoltar, mas também sem acomodar.

Foi ótimo este tempo de blog, me diverti, me fez pensar, foi um companheiro nesta aventura. Agora eu vou. A horta tá esperando, as berinjelas em conserva que quero fazer, os tomates secos, as sementes que tenho para plantar. Quem sabe rola de voltar? Pois é, como me sugeriu a Lilian deixo um ATÉ LOGO, e a vida tomar seu rumo. Encontros sempre terão, aqui ou em outros lugares.

Ciao, obrigada pela companhia nesta viagem!


sábado, 10 de novembro de 2012

Lisboa

Portugal deixou um gostinho de casa na boca. Cheguei aqui com a maior dúvida se era o mesmo português que falamos no Brasil. Desculpe minha ignorância, mas minha experiência com os portugueses era de muito tempo atrás quando trabalhei com uma família de Lisboa, na Bahia, e me lembrava de um filme que tentei ver e não entendi bulhufas. Acho que li todos os livros do Saramago, sei que ele não deixava "traduzir" para o nosso português e pela dificuldade bem que podia ser outra língua. Mas no final a surpresa, sim, posso falar como se tivesse em casa, com paciência todo mundo se entende!

O mais legal é que aqui tive as dicas de duas Joan(n)as. Uma prima querida que não via a anos e que me hospedou e uma amiga querida que tá de volta no Brasil. Uma se chama Paraizo a outra Dovaledourado. A boa sorte tava estampada nestes dias.

E Lisboa tem cara de lugar encantado mesmo. Tem sabor de casa, uma cidade que te diz alguma coisa. Por alguns momentos podia me ver em São Luis do Maranhão, onde as casas grandes, recobertas de azulejos ainda se pode ver por todo o centro. Outras vezes nas ladeiras de Ouro Preto. E depois de 3 dias desisti de comparações, tem cara de casa mas é diferente. E se entregar à diferença é o mais legal pra conhecer a cidade. Olhos curiosos sempre!

Pude provar pouco da cozinha portuguesa, mas deu água na boca e já tô sonhando em voltar ;)
O sabor do Outono aqui tava nas ruas: carrinhos de assar castanha, portuguesa, claro, por todos os lados. A castanha foi uma das minhas últimas paixões na Itália. Feita no fogão com uma panela especial toda furadinha, ou no braseiro como é feita aqui, e pronto. Descascar e comer. Primeiro um talho no meio dela, só na casca, para dar a oportunidade de todo o meio cozinhar. Comi muitas vezes antes da refeição, como uma entrada e outras depois, quase uma sobremesa. Dos deuses.

Mas a minha impressão mais forte de Lisboa foi do comércio. Por um lado eles assumiram a cara de "parados no tempo" e você encontra milhares de coisas lindas super vintage - de sabonetes a sardinhas. Mas o lado moderninho da cidade também bomba, e se você se permitir perder pelo Chiado vai se deparar com cada lojinha apaixonante. Eu, que em geral não sou facilmente vencida pelo instinto do consumo, tive que me controlar, porque queria levar tudo pra casa! Claro que uns presentinhos pros sobrinhos rolou...

quentes e boas é a frase oficial dos vendedores!





quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Minhas placas preferidas

De despedida duas placas que adoro aqui na Itália!



Esta é a placa de ponto do ônibus escolar. Nunca tinha imaginado que uma placa pudesse ser alegre! Estes meninos me parecem tão felizes...não sei se é pra ir pra escola ou voltar pra casa...


Essa é demais. Uma placa pra dizer que todas as direções são por ali...


Melhor ainda quando todas as direções são para um lado, mas "alguém" deu uma escapadinha e é pro outro lado!



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Meu aniversário e eu que bato palmas



Pois é, teve o aniversário.

33 anos, a idade de Cristo. Foi uma experiência nova, aniversário um pouco anônimo. Na verdade já tinha programado o almoço, que tinha gosto de despedida e de uma nova família. Teve direito a cardápio especial, e bolo no final, com velas e tudo. Casa de produtor de vinho é tudo de bom, bebemos um vinho branco austríaco que Pietro me deu uma aula sobre o sabor frutado e especial. Adorei. A noite um jantar com Alberto numa biosteria, imagina que numa cidade pequenininha como Cole Val'desa tem um restaurante orgânico, simples, delicioso, biológico. Fácil assim.

Essa coisa de sentir um carinho grande por pessoas que você conhece a pouco tempo é novo pra mim. Me lembro que antes de viajar, Meroca, uma amiga queridíssima me disse vai mesmo, vai conhecer o mundo, fazer amigos. Pra mim soou estranho. Pensava que amigos era coisa de convivência, com tempo, contato. Não se fazia amigos de verdade assim, em viagem. E este deve ter sido meu maior aprendizado. Tantas pessoas que num encontro de um dia já se tornavam queridas. Imagine então a família Majnoni, que desde o Brasil a Aurora já era uma super amiga e aqui nos tornamos verdadeiras irmãs. Nesta altura eu já tinha adotado o pai dela, Pietro, o irmão, tia, prima, gato, todos já moravam em meu coração! Aqui incluo duas mulheres lindas, que são exemplos para mim: Elena a irmã de Pietro e Christiane, a namorada. Não tenho palavras para agradecer a esta família. Foram muitos momentos especiais, divertidos e de aprendizado. O almoço de aniversário só podia ser ali, "minha casa" como dizia Pietro toda vez que eu retornava e exausta das viagens e andanças dormia horas e horas, como quem volta pra casa...

Aproveito o aniversário para agradecer a estes velhos novos amigos que fizeram desta viagem algo muito importante para mim, a descoberta deste amor que pode permear pessoas que mal se conhecem, mas que se conectam numa energia sutil, como se estes encontros já fossem programados de outros planos e aqui só temos que trocar um olhar e sorrir, foi o prêmio da viagem, sem sombra de dúvidas!

Aos amigos de Pádua, Davide, Simone e Sara, Paride e Vittoria. Vittoria foi a primeira pessoa que me comuniquei melhor (melhor soa um pouco engraçado...) nos meus primeiros dias de Itália. Numa noite que jantamos juntas rimos muito e ela me deu um super lição que não esqueci mais. Ela tinha feito uma experiência de um ano num país da Asia, acho que Tailândia e tinha todos os problemas com a língua e me disse para não deixar de me expressar por essas dificuldades, compartilhar, mesmo que dê trabalho formular uma frase inteira ;)

Aos queridos do Piemonte, familia e amigos do Regaldo. Uma honra estar no casamento da Paola e do Flavio, obrigada pela acolhida nos primeiros dias de Itália. Quero voltar no castelo para aprender as receitas que Pati disse que me ensinava depois que eu aprendesse italiano...

Família Pasolini e aqui inclui a grande família Pasolini: wwoofers, Dado, Kiko, Walter, Annalucia, Lorenzo e todos que encontrei e conheci ali na Officinalia, lugar de gente boa, alto astral e trabalhadeira! O passeio que fizemos num rio com águas sulfurosas e depois o pic nic em San Galgano é inesquecível, dos dias mais legais que tive na Itália! Adoro todos ali, do fundo do meu coração.

Outra família querida, que me acolheu prontamente, foi a família de Angelo Rossini. Adoro todos, e aqui também incluso os amigos Massimo e Maria (que espero esteja bem). Uma paisagem especial da mesa de jantar da casa, com aquele vale à frente e as montanhas de floresta atrás.

Em Puglia encontrei um super pai, Roberto, que sinto um carinho especial inexplicável. Toda a família é demais, adoro a nonna, Mariassunta, Stefânia (outra irmã desta viagem). O Salento se tornou meu cantinho querido na Itália, tudo melhor para mim vem dali: azeite, pasta, figos, melancia, o mar... sou passional nesta hora, totalmente. Ah, Mattia e Tino, a dupla! Queridos. Mattia foi dessas amizades relâmpagos, nos vimos uma vez em Pádua e vinte dias depois estávamos viajando juntos para Puglia no carro dele, fiquei na casa dele quase uma semana (veja bem, a gente se conhecia de uma noite numa mesa de bar...) e Tino virou o meu cão também, me acordava todo dia para a passeada matinal. O que me ocasionou algumas arranhadas básicas pelos braços e pernas, mas nada que já não esteja cicatrizado, ou que diminua meu carinho por aquele cão grandão e desajeitado ;)

Em Palermo outro fenômeno da verdadeira amizade feita em segundos. Emanuele e eu nos conhecemos no ônibus, indo para a praia. Eu estava sozinha, ele também. Começamos a conversar e daí a fazer várias coisas juntos foi um pulo. Férias a dois era muito mais divertido. Mas no primeiro dia, depois deu contar que minha mãe ficava super preocupada porque eu não tinha um cartão de crédito ele me emprestou um cartão de crédito recarregável, que você vai nos correios e deposita o dinheiro. É bom porque dá pra comprar passagem, fazer reservas em hotel e tudo mais pela internet. Tinha até saldo no cartão!!! Me disse que quando eu fosse embora mandasse pelo correio. Dá pra acreditar? Esse rapaz tem um coração de ouro! E tem um cantinho no meu coração também!

Daniela e Alberto, Michele e Laura, Caterina e Massimo, queria contar como cada uma dessas duplas foi sensacional e carinhosa comigo assim do nada, amizade gratuita com uma brasileira que falava mal o italiano e que haviam conhecido num final de semana no Salento e me receberam depois em Roma. Enquanto conhecia Roma com as super histórias de Caterina só conseguia pensar como era afortunada, nenhum guia chega aos pés dessa arquiteta divertida e carinhosa. São todos maravilhosos e super convidados para virem ao Brasil!

Então agora em bloco, pra não ficar grande demais (o que não quer dizer que sou grata-compacta, sou grata com um coração dilatado por todos estes encontros). Denis, meu primeiro e bem sucedido amigo couchsurfing, às meninas Lisa, Alice, Aurora, Aurora, pelo belo final de semana de chuva e pelo carinho que todas demonstram pelo Brasil ;) , família Caramadre, à querida família de Umberto, Gaia, Leone e Augusto. Inesquecível (eu estou sempre repetindo essa história) a carinha do Leone quando eu contei que nunca tinha visto neve e o grito - Mama, mama, lei ha mai visto neve! Amigos da vendemmia, que me proporcionaram uns dias bem divertidos no meio de tanto trabalho. Podestá, Claudia, Jeancarlo e Jacopo, uma turma que queria perto de mim todo o tempo. Adoro. Outra turma que é "a minha turma" são os amigos do Le Fornaci, Michele das cabras (a gente sacaneia ele que se identifica no telefone como o cara das cabras), Lea, Fran, Ba, Massimo, Marco, todo mundo que encontrei ali é show de bola, eu me sentia em casa, entre velhos amigos! Amigos do Terra Madre, especialmente minhas amigas de infância conhecidas ali a paulista Flora e a sergipana Cibele. Familia Sica, rápida e fácil interação, assim, perfeito. Michele e Elisa, este super casal que me adotou nas minhas passadas por Turim neste final da viagem. A todos de Maggiano, Laura, Luca, Andrea e Chiara, família linda que adorei conhecer e estar juntos, Elisabeta e Nicolò, Mila, Francesco, Sérgio...Alberto, este encontro não tenho palavras, deixo pra vida dizer.

Obrigada a todos, sei que muitos nem vão ver (ou entender) este post, mas foram todos muito importantes nestes últimos meses da minha vida. E principalmente me fizeram descobrir o lugar no meu coração onde mora este amor, construído assim, rápido, mas que depois é grande e num sai mais dali...







sábado, 3 de novembro de 2012

O vulcão da contagem regressiva

Esta última semana foi no ritmo de fechar os ciclos. Despedidas, malas, presentes. O Brasil tá mais perto a cada dia.

Confesso que os primeiros dias depois do Terra Madre tava meio sem chão. Talvez esta não seja a palavra exata, a verdade é que tinha vontade de retornar àquele mundo. Era estranho não poder simplesmente ir a um lugar e encontrar os produtores do Brasil ou ao stand francês só de manteiga que se tornou minha obsessão no evento...Como eu não comprei uma manteiga de cada que tinha ali??? Só depois me dei conta que eu não havia o contato de todos os expositores brasileiros, que o Slow Food fez um flyer muito legal de todos as fortalezas presentes e que eu gostaria de ter impresso - ainda que exista digital - estas informações! Passou rápido, essa é a verdade. E ficou um gostinho, de que é necessário voltar no próximo.

Mas é difícil pra mim parar e depois de ir a Turim, voltar para a Toscana e no caminho ver pela primeira vez nevar (!) fiz a última viagem na Itália: Nápoles. Uma viagem linda, um lugar especial.

Nápoles é sempre lembrada por ser um lugar perigoso na Itália, onde se deve estar atento à bolsa e essas coisas que sempre fazemos nas grandes capitais brasileiras. Pra mim ficou uma outra lembrança. Além da pizza, uma experiência que precisa ser vivida ali, é forte a presença do Vesúvio, este vulcão, que é ativo, mas dorme... dá pra imaginar um pouco a alma deste povo, que parece ter esta larva dentro, falam alto, brigam, amam intensamente, dirigem como loucos, tudo ao extremo. Mas o mais forte é pensar que vivem do lado de um gigante adormecido, que pode acordar a qualquer momento, e tá todo mundo lá, feliz da vida!

O Vesúvio deixa marcas na vida diária, da areia preta da praia ao tomate cultivado nas terras vulcânicas. Este tomate que é pendurado nas casas em cachos e pode durar todo o inverno tem um sabor único, quente, de vulcão. É com certeza, o melhor molho ao sugo que já provei. Outra iguaria local são os queijos de búfala, tradicionais desta região. A mussarela é sem comentários e para os napolitanos mussarela é sempre deste animal, mussarela feita com leite de vaca não existe, é outra coisa, tem outro nome. Aqui provei pela primeira vez na Itália o provolone. E agora este queijo está junto com a ricota na lista dos queijos que precisam ser re-conhecidos no Brasil! Primeiro lugar: provolone é feito com leite de búfala, é a mussarela defumada. Mas não é defumada demais, como os nossos provolones que são secos por dentro, por dentro ela ainda é úmida, se pode sentir a massa filada e por fora uma leve crosta. Dos deuses.

Aqui 3 preciosidades napolitanas: espaguete, tomate do vesúvio e provolone! De comer ajoelhado, como diria minha madrinha!

Agora, é fechar a mala e ver o que me espera em Lisboa...

Ops, talvez eu apareça antes com notícias do aniversário!